domingo, 24 de outubro de 2010

Das comparações.

Dia desses eu conversava com uma amiga e acabei falando sobre "O castelo". Para a minha surpresa, ela não conhecia nada de Kafka e eu tentei fazer uma breve explicação sobre o assunto. Querendo entender um pouco mais do que se tratava, ela me perguntou se "Kafka era uma espécie de Saramago húngaro". Fiquei sem resposta.

Entendam meus motivos: nunca li sequer uma página de qualquer livro de Saramago então não faço idéia dos pontos em comum que ele pode ter com Kafka. Mas o que realmente me paralisou, creio, não foi desconhecer a resposta, mas sim o ato de comparação que me pareceu um tanto rude (explico em outro dia porque), embora natural. Natural demais, até. Faz parte da lógica do humano adulto comparar o novo ao que já conhece e tentar encaixar o diferente em categorias quaisquer.

Quando criança, o homem toma pra si o fato como o vê. É praticamente desprovido de parâmetros, então tudo é novo e tudo é único. A medida que envelhece, a prende a questionar e transformar seus pontos de vista. Mas ao passo em que ganha consciência crítica, cria categorizações. Eu já escrevi n vezes sobre categorias aqui, não é disso exatamente que quero falar agora, mas sim do quanto isso pode ser sufocante.

Com o passar do tempo, a tendência natural seria a de criar cada vez mais caterorias e tentar catalogar o mundo inteiro. Mas não é isso o que realmente acontece. Com a maioria das pessoas o que ocorre é a chegada a um ponto crítico após o qual nada novo é aceito. Mesmo que se tenha contato com uma idéia diferente, pessoas que passaram do ponto crítico tentarão tornar aquilo familiar desmembrando o conceito em termos de velhos conhecidos. Um exemplo clássico é a primeira descrição de um abacaxi feita pelos europeus.

Chamo aqueles que passaram desse ponto crítico de caducos. Esse tipo de caduco é a suma da arrogância sem sequer perceber. Se não aceita que algo novo possa existir, é porque acredita que o que ele sabe já é o suficiente. Mas toda pessoa deveria saber que qualquer quantidade de conhecimento nunca é o suficiente. Não quero com isso defender que deve-se encarar o mundo como se tudo fosse novo, mas sim com a percepção de sempre vai haver algo que escapa ao que já conhecemos.

Entre o velho e o sábio existe uma distinção imensa: a capacidade que o último tem de reconhecer quando precisa rever seus critérios.