quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Das obrigações sociais.

E quantas vezes você já perguntou ou perguntaram a você "tudo bem?" sem o menor interesse na resposta? O fato é que tornou-se mero hábito.E tanta coisa torna-se hábito. Mentiria se eu dissesse que realmente me interesso pelo bem estar de todos que conheço, mas para mim essa pergunta em particular tem um tom curioso.

Vive-se em na era da hipérbole. Tudo que acontece a nós é mais. Mais grave, mais importante, mais urgente. Ou é o que se pensa. Então, porque perder tempo em realmente se interessar pelo que outra pessoa tem a dizer? Não deve ser nada perto do que eu quero falar, não é mesmo? E falamos um com o outro como se fossemos paredes. E fingimos ouvir, esperando que o outro pare de relatar sua idiotice e passe a prestar atenção nas nossas vidas tão mais importantes.

Então, o que significa "tudo bem?"? É um mero protocolo. Não importa ao médio saber se seu interlocutor está bem. Bem ou não, os problemas do médio são sempre maiores, então todos devem ouvir o quanto a sua vida é difícil. O quanto só ele trabalha muito, o quanto só ele se esforça e não tem o reconhecimento que acha merecer e o quanto só ele tem problemas de relacionamento. Interessante notar que ele não quer se envolver com problemas alheios, mas quer que cuidem dos seus, isso é o tal relacionamento que procura.

O médio é tão comum, que é dai que vem o seu nome. Não tenho amigos médios, pois não chamo médio algum de amigo. Mas conheço tantos. Sempre as mesmas lamentações, sempre as mesmas queixas para os mesmos públicos. E médios conversando, que lamuria. Um concurso de quem tem os problemas medíocres mais importantes. Quem é o maior sofredor. Sim, porque ser sofredor é de grande estima. "Tenham pena de mim, minha vida é comum". Em todos os piores sentidos, é mesmo. Médios prejudicam a média, na verdade, prejudicam a si mesmos. Seus anseios de atenção são notáveis para outros médios, que acabam se esforçando ainda mais para ter a tal atenção para si.

Mas ser médio é ser necessário. Apenas um médio tolera outro médio. E é tão fácil ser médio. Em vez de tomar uma atitude, reclame infindavelmente sobre seus pequenos aborrecimentos. Não vai resolver nada, mas vai mostrar a todos que você não é tão acomodado assim, não é? Funcionaria, caso os outros médios dessem a mínima para o que você diz. Estão todos muito ocupados inventando desculpas para não resolverem os próprios problemas. Mas não se preocupe, eles não te abandonarão por completo.

Estarão sempre lá para perguntar "tudo bem?".

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Das aparências.

Julgo-me bom observador e por isso quase sempre mantenho minha idéia inicial sobre uma pessoa. A teimosia, muitas das vezes, reforça cada traço que minha visão inicial do indivíduo me proporcionou, mesmo que as novas atitudes não se encaixem exatamente no perfil traçado.

Eu falho nesse aspecto, ao não gostar de dar a quem não me agrada o direito à ambiguidade que dou a todos os outros. O que me irrita é necessarimente vil, perverso. Mas valerei-me do bom e velho "não ligo', como em diversas outras ocasiões já fiz, para seguir e falar do que realmente interessa a mim enquanto escrevo este post: os erros de julgamento.

Pessoas são. O que aparentam ou deixam de aparentar cabe apenas ao especulador-observador, mas tem efeito algum sobre o ser. Pelo menos não em nível interessante. Amontoados de opiniões acabam sempre tendo algum efeito, que seja o de aborrecimento ou enaltação, daquele que é alvo delas. Quem tem cara de bravo afasta brincadeiras, o com cara de bobo atrai enganadores e por ai vai.

É curioso pensar nisso, como inúmeros já fizeram antes de mim, fazem agora ou farão depois, sabidamente chegando a conclusões parecidas, já tão batida que me recuso a reproduzí-la. O que me interessa mesmo é enfatizar que toda pessoa tem algo a dizer, algo que não está escrito em sua aparência, mas está gravado em algum outro lugar. E que cada experiência dessa tem grande valor a agregar. Que pareça tola ou igual a outras, servirá pra se ter mais um pouco do gosto do que é humanidade. Divagação meio circular, mas hoje é um dia para divagações.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Do perdão.

O orgulho, a mágoa, a vontade de vingança, há tantos entraves ao perdão que este se tornou divinizado ao longo da evolução humana. É do senso comum dá-lo a "quem merece". Isso muito me incomoda.

Ninguém "merece" perdão. Perdão é como o amor: ele não surge pleno de um ímpeto, mas sim brota a vontade e da vontade pode crescer o sentimento em si. Perdoa-se quando não há mais mágoa. Qualquer coisa antes disso é tão vazia quando as declarações apaixonadas dos galãs de filme. O perdão é curtido em reflexão, envelhece como vinho e só ai está pronto.

Só se é capaz de perdoar se há também a capacidade de deixar ir. Odeia-se, muitas vezes, pelo orgulho ferido do que pela própria ofensa. "Ousou fazer isso a MIM, a MIM fez isso o imbecil! Eu relevaria o seu ato bem mais cedo se fosse feito a outro, mas ofendeu a mim.

Ademais, ainda dói. Dói e eu não aceito que não doa. Dói e eu entendo que me prejudica, mas em vez da cura, quero a doença, quero entregar-me ao nada. Terá seu troco, continuarei o ciclo, ao ofendedor, o dobro de minha ofensa.”

Pensamentos como estes me enojam. E os tenho todos, às vezes. Porém, nada disso é realmente o que me incomoda agora. Agora eu penso em como é possível perdoar quem continua a errar. Perdoar-se-ia o todo quando o detrator parasse de portar-se assim, ou perdoá-lo-ia a cada nova infração? E se estas se acumulassem antes que fosse possível acalmar o coração? Antes mesmo de que fossem entendidas por completo?

Não perdôo a quem merece. Não perdôo quem busca meu perdão. Perdôo quem eu quero perdoar, quando estou pronto. E sou sincero, não se pode me acusar do contrário. Deixar as coisas irem, pois nada me pertence.

domingo, 31 de julho de 2011

Sobre o enxadrista.

Estratégia é uma parte fundamental da vitória, isso é sabido desde os tempos mais remotos. Mas há guerras e há danças. Danças têm no máximo passos e coreografias, jamais estratégias. São organismos a parte, praticamente, mas delas eu já tratei, só preciso de um gancho para o que realmente quero dizer agora.

Há guerras e há danças. A conquista é do segundo grupo, bem mais do que do primeiro, se pensado direito. Não é exatamente uma competição, é uma colaboração. Para dançar tango, precisa-se de dois. Não se trata de subjugar, não há adversário. Trata-se de Envolver-se mutuamente, não de enredar. Ai falha o enxadrista, o ser meramente lógico. O xadrez, tal como a guerra, é pautado em aniquilar defesas. O enxadrista é um péssimo romântico.

O romântico dança, sabe conduzir e deixar-se conduzir, sabe o começo e o fim, desconhece o caminho exato e isso não o incomoda. O enxadrista desenha cada instante, monta armadilhas, odeia não ter o controle absoluto de cada situação. O enxadrista teme o espontâneo, por isso não dança. E se dança, ou tenta, exige assumir as rédeas. Não flui, desloca-se. Não sente o que fazer, calcula. E hesita. Há, como hesita e perde por isso. Ainda não entende que os melhores movimentos possíveis não são decididos com antecedência, mas são como a água movendo-se por onde pode ser se preocupar com formas pré-definidas.

Pelo menos sei que alguns enxadristas aprendem a dançar às vezes, e um que conheço bem já entendeu certas nuances que sua cabeça quadrada não permitia antes. Agora ele dança também, embora desajeitado. Nada muda de verdade de supetão, não é mesmo?

domingo, 10 de julho de 2011

Das pequenas tristezas.

Eu compreendo completamente as minhas vontades. Não é pretensão, é fato. Sei exatamente o que me leva a querer o que quero. O que me escapa é o controle sobre estas situações. Recentemente havia "decidido" esquecer de uma vontade minha, um capricho, na verdade, mas apenas constatei a minha impotência no que diz respeito a certos aspectos da minha própria psique.

Tive, por um bom tempo, a infantil perspectiva de que conhecer a causa implica em controlar o desejo. Não poderia estar mais enganado. E me vejo em mais uma situação que prova a independência entre conhecimento e controle. Estou um tanto triste, o que é atípico nestes momentos de aprendizado mais intenso. Sendo o meu desejo saber mais, devo concluir que é natural não me agradar perceber que saber de que se trata uma situação não basta. E talvez nada baste para que certas coisas estejam sob total controle. Ou controle algum. Nisto sim eu admito a minha arrogância: meu desejo de ser senhor de tudo que diz respeito a mim mesmo.

Mas é impossível controlar-se totalmente de forma saudável. É justamente essa independência da vontade que torna a vida livre e fluida. É auto-multilação podar isso. Assim que seria mais justo comigo mesmo me entristecer por não ter o que quero do que por não ter controle sobre querer. Entretanto, sempre suponho a justiça como valor arbitrário. Teria então validade meu argumento? Sim, claro que sim. É do âmbito mais intimista e pessoal que trato ao falar de vontades. Então, para a esfera pessoal, um valor pessoal. Aos olhos da minha justiça, de nada vale substituir um aborrecimento menor por uma aberração contra a minha natureza. É pecado contra mim mesmo.

Um detalhe que é importante frisar: mas não seria outro capricho dos meus desejos querer que eu os controle? Talvez. Mas a liberdade, por se permitir tudo, nem sempre escolhe para si o caminho mais adequado. Isso é óbvio: se escolhesse, a razão seria inútil, o que não é o caso. Deve-se restringir a vontade de se anular, sempre. Ela é fruto de um pensamento medroso e vacilante. A liberdade deve ser usada de forma expansiva, não autodestrutiva. Então, reafirmo que tentar controlar os meus próprios desejos a ponto de que sejam apenas o que minha sensatez dita é idiotice minha. É pura covardia, olhando bem. O medo do desconhecido ataca de novo. Desconhecido aqui significando não o que não sei a causa, mas o que não posso controlar. Essa palavra não aceita esse significado? Agora aceita. Faz parte do ser reinventar. Mas isso é outro tema que merece mais que duas linhas, deixo para outro dia. E deixo, por hora, a minha insegurança de lado também.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Do desejo.

É do princípio do Tao o pensamento "alcançar a ausência de desejos, até mesmo o desejo de não desejar". O cristianismo, por sua vez, coloca boa parte dos desejos naturais dentro da esfera do pecado. E por que tanto religiões ocidentais quanto orientais condenam este instinto básico? Pelo seu poder destrutivo.

Do desejo derivam os grandes feitos e as grandes intrigas. A que me chama mais atenção neste particular momento e a grande motivadora deste post é a inveja. Mas por que não um post apenas sobre ela? Não me apetece. Parece mais interessante agora ser mais holístico. mas antes, um pouco mais de aprofundamento em minha opinião. O desejo de ter aquilo que o outro possui motiva ódio, guerras, intrigas, rabugice em todos os níveis. É nocivo, sim, mas talvez doses homeopáticas surtam algum efeito positivo.

Instiga a competição, de certa forma e a competição pode ser bem vinda. Não fosse o desejo do homem de ser melhor, ele jamais teria desenvolvido tanto a ciência. Porém, não serei leviano aqui, por homeopatia realmente quero dizer uma enorme diluição. A inveja pode corroer toda boa vontade já em fase inicial. O ideal seria extinguir esta falha de caráter, mas não vivo de idealidades. Para não se desejar o que pertence a outrem, deveria-se nada desejar e isso é imbecilidade. Perdoe-me o Tao, mas não desejar é ser não humano e isso não no sentido de transcender a si próprio, mas sim de ser fantasma do ser.

Desejar é planejar. Toma-se planejar como ato totalmente racional de criação de etapas lógicas para obtenção de um resultado, mas eu corrompi este sentido há eras. Sim, eu sou audacioso e arrogante(?) o suficiente para isso. Digo serem planos também as antecipações puramente instintivas. Se é bom plano, não é do escopo deste texto. Digo apenas que é plano necessário. Consequência da existência e da condição humana. E é força motriz de belos feitos, se usado com as devidas precauções.

Ainda assim, detesto invejar. É tão vil e baixo. Uma daquelas faces pervertidas e perversas da natureza humana. Porém, se pretendo seguir o que digo a respeito de abraçar a própria humanidade, devo perceber como tirar proveito até dos piores defeitos. Gantz gut.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Sobre o egoísmo.

Se há palavra mais carregada de sentido negativo que "egoísmo", eu a desconheço. Juízos de valor do senso comum costumam me causar urticária, mas sobre esta forma de agir a moral comum me faz querer rasgar a pele.

Sim, o homem é um ser coletivo por natureza, porém, atrás deste coletivismo esconde-se uma razão simples: necessidade de sobrevivência. E não preciso dizer a ninguém que isso é apenas reflexo da necessidade de auto-preservação. O homem é, por excelência, egoista.

Antes que chovam cristianidade em mim, chego logo a meu ponto: egoismo em si não é algo nocivo. Aliás, o verdadeiro egoísmo, ao qual chamo de egoísmo elegante, é a forma mais eficiente de sobrevivência para qualquer ser vivo. Confunde-se muito idiotice por egoísmo. Este é o egoísmo pária.

O egoísmo elegante faz aquele dotado dele tomar sempre as melhores decisões para si próprio, o que muitas das vezes significa favorecer ao grupo em pequeno detrimento de si mesmo. Isso, apesar de aperecer contraditório, é uma estratégia básica e bem inteligente. Um grupo feliz é um grupo coeso, logo, é um grupo que protege melhor seus membros. Ao contrinuir para o aprofundamento de laços de afeição, o indivíduo age de forma bela em favor de si mesmo. É o amor de mãe incondicional, que em sua base tem o desejo de que seus genes se perpetuem. É o bom samaritano que tenta fazer do mundo um lugar melhor, sutilmente desejando viver em paz e segurança. É esquecer o orgulho para reconhecer a necessidade de se ter o próximo como apoio.

O pária, por outro lado, na medida em que faz com que seu portador tome atitudes preciptadas e que só o beneficiam, também isola-o e o enfraquece, provando sua idiotice. É a autodestruição em sua forma mais imbecil.

O egoísmo elegante é vital e o único caminho sensato. Também não quero com isso dizer que todos os sentimentos de amor romântico e amizade são falsidades. Pelo contrário: são tão verdadeiros quanto a própria vontade de viver. São a humanidade impressa e escrita em palavras e ações. São a nossa verdadeira causa. Ser conjunto para salvar o indivíduo. Ser dois para salvar ao um. Associar-se para preservar-se.

Portanto, abraçar a natureza humana como um todo é entender que o egoísmo elegante é fundamental. Aliás, egoísmo elegante não, visto que minha divisão foi meramente semântica. Só há o egoísmo elegante, o seu oposto pária é a loucura do isolamento. E assimsempre foi.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Do hipócrita.

Em mim reúnem-se o conselheiro e o aconselhado. Mas eu cometo o pecado de não escutar a mim mesmo em algumas ocasiões. Isso me atormenta profundamente e devo permitir mais esta discrepância absurda. Tomo hoje como o dia final da minha miserável hipocrisia e afirmo que serei modelo do meu pensamento de hoje em diante.

Tudo o que se diz é de quem diz. Se se toma a palavra, deve tomar também a ação, é o mínimo. Palavra apenas dita é idiotice, é a palavra vivida que tem valor. Teorizar tanto para no fim não provar a própria tese é patético. Triste o pequeno eu que falhou consigo várias vezes. Este morreu. Nasce agora o paladino da própria verdade.

Terei em mim cada vírgula tatuada e este post servirá como meu contrato formal comigo mesmo. Se o que eu digo que devo ser. Não, mais que isso, ser o que eu sei que devo ser.

Ser leve e verdadeiro é bem mais fácil quando se abraça a própria existência como crê que ela deve ser. E assim será, Stein um Stein.

terça-feira, 17 de maio de 2011

Sobre a fragilidade da condição humana.

É dito humano tudo aquilo que é racionalizado. O senso comum tende a desprezar a ação instintiva, taxá-la bárbara e impura. Grandes homens já dedicaram suas vidas a mostrar, por lógica simples, mas concisa, que se trata tudo isso de uma falácia. É mais humano quanto mais natural e sensível, visto que a razão nada mais é que uma abstração padronizadora. Seu mérito é o de tornar aparentemente controlável o ímpeto da vida.

E dessa loucura humana é que a fraqueza faz seu abrigo. A necessidade de controle naturalmente se torna em ilusão de controle após a aplicação dos típicos sistemas de aprisionamento de condição. E a ilusão de controle torna-se delírio de onipotência. Veja o homem que machuca a si porque ignora sua fragilidade e pára de prestar atenção ao seu redor, confiando apenas em sua capacidade "indubitável" de realização. Assim que se esquece de seu instinto de desconfiança, perde-se e fere-se.

O absurdo de ignorar seu único contato verdadeiro com o mundo tem preço alto. Por que é tão fácil crer que a abstração intelectual é mais verdadeira do que a realidade sensorial? Porque é da natureza do orgulho tomar aquilo que diferencia o homem como superior. Tolice não perceber que é justamente o oposto: afastar-se do que percebe para vangloriar o que racionaliza só aprofunda sua idiotice e inverdade. Inferioriza e enfraquece o homem.

É superior o homem que entende seu mundo tal como o vê e não como o idealiza. Para melhor ou pior, o idealista é tolo. Aproprio-me aqui deste termo apenas por um significado seu, mas essas minhas leviandades já são costumeiras e espero, auto-justificadas aos olhos de quem já leu mais de um texto meu. Talvez melhor idealizador a idealista, mas em todo caso, entenda-se o que fantasia.

Como pode querer entender a verdade se a maquia a seu bel prazer? Quer ver o mundo? Olhe para ele, não o teorize! Abandonar a postura contemplativa é o primeiro grande erro, e este é o que fatalmente conduz a toda ilusão de grandeza. Não se pode esquecer jamais da nossa condição de animais e por isso, não se pode jamais renegar nossos instintos básicos de preservação. Sentir-se intocável é tolher o próprio direito à defesa, visto que o invulnerável não precisa de proteção.

Que não me entendam como defensor da postura passiva, muito pelo contrário: passa pelo reconhecimento do ser, não pela sua teorização, a grandeza. Deixar de agir é também permitir a soberba da razão calar os instintos. A fraqueza maior é, e sempre foi desde que existe moral, a incapacidade de ser verdadeiro e espontâneo.

E disse o racionalista: tornem-se verdadeiros consigo esquecendo a razão.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Da vontade de potência.

Não o livro, não sou crítico. Tomo o tema. E embora uma das mentes mais brilhantes das quais já pude ler textos já o tenha feito de maneira sublime, tenho meus remendos de filosofia(seria mesmo isso filosofia?) a fazer. Aliás, apenas por eu o admirar faço este minúsculo prelúdio. Porém, meu espaço, minhas regras. Segue então minha linha de pensamento.

Já é lugar comum, suponho eu, crer na máxima "a palavra tem poder". No snetido de realização e ação, é plausível. Mas minha preocupação maior sempre foi o conceito maior que esta frase feita esconde. Se levianamente o senso comum a traduz como "para conseguir, tem que querer muito", arma formidável armadilha. Seja sincero: basta querer?

Quer? Querer é apenas o primeiro suspiro. Há de fazer-se muito ainda. O próximo passo é poder. Pode? Tem capacidade? É humano, entenda isso. Só sua imaginação tem limites infinitos(questionável isto também, mas não perderei o foco), todas as outras capacidades são limitadas. Conhece-as?

Pode? Poder é apenas a conformação do desejo. Tornou sonho em possibilidade. Ótimo. Mas ainda nada em alto mar e a costa da realização ainda está a milhas. Tome o mundo e faça-o dançar a sua melodia. Não é o querer que te faz realizar nada. Não é poder que te torna um realizador. Há ainda o terceiro passo, a ação.

Mas qualquer gato bêbado seria capaz de notar isso. Quero escrever um livro de auto-ajuda? Não mesmo. Para que repetir o que todos já sabem?

Porque o senso comum esquece, ou apenas lembra caso queira barrar o progresso, da quarta etapa. Oposição. A inércia de qualquer situação prende o realizador ao seu presente e evita que atinja seus objetivos. Não deveria estar a capacidade de transponir obstáculos já contida na segunda grande pergunta do texto? Jamais, não se pode ser ingênuo. Entre o que um indivíduo pode ou não fazer e o que ele efetivamente consegue fazer há um mundo.

A real pergunta e pra qual a resposta tem que ser sempre sim, é "consegue?". É humano, então cai, simples. Mas quando cai é o que importa. Se caiu com o troféu em mãos, ele é seu e nada mais importa. Se não, todo o esforço é agora cinza: fim de novela. Disso tudo para tirar apenas que sucesso e fracasso são condicionados por fatores muito maiores que mera vontade. Aliás, as vezes tem-se o que nem sequer se deseja, apenas porque para conseguí-lo o esforço foi menor até do que o percepitível.

Vontade em si só não vale mais que um arfar breve e sem sentido. E eu me retiro sem maiores explicações.

domingo, 8 de maio de 2011

Dos corações.

Há pessoas ditas de coração de ouro. Diria eu ser uma analogia interessante: ouro é valioso por sua nobreza (entenda-se nobreza aqui em seu aspecto técnico) e beleza. Tal é o coração de uma boa pessoa: maleável, mas praticamente inquebrável. Cede facilmente, mas apesar de parecer mudar, não altera em nada sua natureza, pelo contrário: apenas conforma sua aparência externa como for necessário, sem alterar em nada o que realmente é. O coração do homem bom realmente é de ouro.

Estendo essa analogia interessante tomando outros materiais e seus respectivos representantes emocionais. Um coração de diamante seria duríssimo e inerte. Brilhante e resistente, mas com um golpe seco, estilhaça inteiro. É o coração do sonhador. Não se abala e nem se conforma, permanece belo e altivo. Até que um golpe seco de decepção o destrua por completo. É resistente, mas desconhece seus próprios limites, o que acaba levando-o a sua própria desgraça.

Já homem de coração de aço estaria entre esses dois. É capaz de tolerar mudanças, mas nem tantas assim. Tem certa firmeza e reluta a moldar-se em algumas situações. Ainda é pequeno, se visto por esse aspecto. Seria o coração do homem comum.
Há ainda o coração de lama, mas não estou em humor de falar de coisas irritantes. E é bom começar apenas de leve, após uma longa pausa, afinal, escrever também é exercício. Até mais.

terça-feira, 19 de abril de 2011

Sobre comunicação

Eu nunca te compreenderei plenamente, caro leitor e vice-versa. Mas talvez isso seja o menor de nossos problemas. Sendo assim, continuo esta farsa na esperança de que o essencial de minha mensagem não se perca.

Ora, mas que farsa seria essa? Bem, a farsa da escrita, é claro. De forma mais abrangente, a da comunicação. Pareço louco? Explico-me, então: Toma um pensamento teu, aquele qualquer e genérico. Tranforme-o em palavra escrita. Transmita-o para mim. Eu o leio e formo novo pensamento. É o mesmo? Sabes que não. Sabes bem que não. Setia impossível não perder ou acrescentar significados a esse pensamento em todo este trajeto. Paro de tergiversar: meu ponto hoje será a crítica relação entre pensamento e comunicação e como a segunda corrompe o primeiro.

Toda tradução muda o sentido das coisas, mesmo que levemente. E comunicar-se é traduzir pensamento em signos. E de todas as formas de comunicação, creio ser a escrita a que comete os maiores pecados semânticos. Textos não possuem um tom específico ou contexto ou sinais corporais. Pelo menos não obviamente. Exige pesquisa para se entender bem a um texto como se entende uma conversa olho no olho.

E não há pesquisa na maioria das leituras. Somos levianos em boa parte das vezes, inferimos detalhes da simplicidade e construímos andares diversos sobre o mesmo alicerce. A livre interpretação é perigosa. Não que a liberdade seja um perigo, é a manipulação. Levo um texto comigo pelo caminho que desejo, quando a palavra dita se deixa levar muito menos, pois não foi só ela que o interlocutor deu como objeto de significado. Cada detalhe de suas expressões funcionou como signo que foi perdido na trasncrição. Os realistas tentaram mixar ao texto essa avalanche de informações da imagem, mas o resultado foi bem mais chato que informativo.

Ora, mas se não nos entendemos, para que nos comunicarmos? Que perda de tempo! Não. É vital que mesmo nos sendo estrangeiros em termos de comunicação, somos todos cidadãos da pátria humana. Eu te entendo como posso, tu te comunicas como te convém. E eu e tu somos necessários um ao outro, é uma parceria benigna a ambos. Quando eu te falo, tu te entendes mais humano ao tentar me entender. Eu me entendo mais humano ao tentar me fazer entender. E esta simbiose se prova não só útil, mas básica.

quinta-feira, 31 de março de 2011

Sobre sorte II

Sorte é um conceito ambíguo que depende da inclinação pessoal a interpretar o acaso como bom ou ruim. Defino-a assim porque me parece óbvio que o otimista se considere bem mais sortudo que o pessimista, dadas as mesmas circunstâncias. Hoje mesmo passei por uma experiência que me fez aplicar esta conceituação: esperei o doutorando com quem faço IC por mais de uma hora, até ligar para ele e descobrir que ele me havia avisado por e-mail que não viria por estar doente. A questão é que este e-mail foi enviado depois de eu ter ido dormir e eu não tenho o hábito de checar meus e-mails na faculdade.

Dada a situação acima descrita, uns diriam "nossa que azar, esperou a toa". Já outros, eu incluso, sabendo que eu tenho provas amanhã e de qualquer forma precisaria ir embora mais cedo hoje diriam "que sorte a sua!". Afirmo que ambos os grupos estariam certos, por sorte ser um conceito flutuante e nada absoluto.

Disso quero extrair também o atrelamento do conceito de sorte ao grau de informação sobre uma situação. Sem que dissesse precisar do tempo extra que ganhei, restaria apenas aos muito otimistas declararem que ainda tive sorte, visto que ganhei uma tarde de folga. Ora, tão válido seria o argumento que tive azar de qualquer forma, por ter desperdiçado tempo de descanso. Declaro também, portanto, que não há sorte ou azar, há disposição de encaixar determinados acontecimentos em categorias.

E eu, que categorizo tudo, já descrevi vários outros aspectos da psique humana que são categorizados. Assim, A base do meu argumento aqui não será apenas a de que esse conceito é arbitrário, já que sua arbitrariedade é inofensiva, mas sim de que é igual o direito do sortudo de se declarar assim ao direito do azarado de o ser. Nem fome na África, nem unha quebrada, não há mal pequeno ou grande de mais que possa realmente privar o homem de suas emoções, a não ser que ele permita.

sexta-feira, 25 de março de 2011

Sobre irritabilidade.

Todos, até os mais bem humorados, às vezes ficam irritadiços. Faz parte da natureza humana, nada de alarmante nisso. Hoje estava nesse estado deplorável de me aborrecer por pequenas bobagens, consequência direta de um péssimo dia na faculdade e proximidade das provas. Mas então, enquanto caminhava para a academia e reclamava sozinho de um professor, vi um mendigo levantar e começar a dança do joelho junto. Nunca vi uma bobagem ser tão precisa. Na mesma hora, esbocei um sorriso enorme e todo o meu aborrecimento pareceu ridículo. Nada importava além daquele espírito livre fazendo o que queria apenas porque queria.

Isso me fez refletir bastante sobre o quanto nos deixamos nos abalar pela rotina. O tédio, o stress e toda a pressão do cotidiano acabam riscando o que há de mais belo em qualquer pessoa: a capacidade de se alegrar com pouco. Pelo contrário, inserem em nós o péssimo hábito de ser irritável. Irritabilidade nada mais é que o caminho mais fácil de reação a adversidades do dia a dia. Encarar as coisas com leveza de espírito requer um desprendimento enorme e o ser humano é naturalmente controlador e tem medo do que não conhece. preocupa-se de mais com detalhes insiguinificantes e esquece de ter uma visão olística das coisas que o cercam.

Ter o espírito leve é frequentemente associado a ingenuidade e ser ingênuo é ser ridículo para um adulto. Ainda mais num mundo em que se preza a agilidade da mente, a esperteza. É justamente o contrário, afirmo veementemente que trata-se de outro valor invertido em nossa sociedade problemática: o espírito livre é o mais sábio de todos, enquanto o irritável é apenas um tolo mascarando sua preguiça de encarar a vida com uma atitude construtiva com seu mau-humor.

Essa postura é prejudicial a quem a adota e a quem está próximo desta pessoa. O exemplo ruim é sempre mais copiado que o bom exemplo, ainda mais quando aquele advém da inércia. Torna-se uma célula de depressão no tecido social. E quantas não são assim? Bem, abandonando o tom doutrinador, continuo fazendo minha parte. E esse camarada morador de rua/dançarino me lembrou bem que por mais que certos dias estejam ruins, tudo tem seu lado bom e o importante é não perder a postura do homem feliz.

terça-feira, 22 de março de 2011

Sobre fotografia e imagem pessoal.

É uma coisa aparente simples, mas icônica. Boas fotos imortalizam momentos únicos. Seja em reuniões entre amigos ou numa guerra, esse registro imediato de uma situação é realmente algo valioso. E poderoso. A foto pode ser manipulada e provar pontos inexistentes. E pode alimentar ou destruir egos, dependendo do seu uso.

E é de egos que quero falar. O orgulho humano vive da impressão alheia, isso é fato, mas eu não condenarei o orgulho agora, já falei disso e não gosto de me repetir. A perspectiva aqui é um tanto diferente: o que é o "eu"?

Nada mais que o conjunto de características que definem o indivíduo. Mas você não precisa perder seu precioso tempo me lendo para saber disso, é intuitivo. Será? Qual a real definição de caraterística? O ser é a oposisão do não ser, por fim. Sabemos bem mais sobre o que não somos do que sobre o que somos, essa é a verdade. Daí parte a criação do eu a partir do outro. Acontece que não apenas define-se o um pelo o não um, mas aquele acaba jamais precindindo da aceitação deste. Ou isso seria o natural a se concluir.

Peço que conceba então que a necessidade de aceitação pelo próximo é apenas fruto da necessidade da aceitação de se mesmo. Sim, com todas as letras é exatamente isso. Cada vez que se exibe ao mundo uma qualidade, na verdade está apenas pedindo-se a permissão, ou a tomando por força, como preferir, de varolizá-la. Coloco minha melhor foto no meu perfil virtual para mostrar o quanto estou satisfeito com meu melhor ângulo, mesmo que ele só exista depois de edição. Mais um mero caso da incansável busca pelo "bem", pela qual já demonstrei meu asco.

De que vale isso tudo? Vale a segurança. O ser humano só tem 3 reais necessidades, de onde derivam todas as outras: alimento, segurança e conforto, nessa ordem. E antes de continuar, devo ressalvar que a meu ver, existem dois tipos de orgulhosos: os orgulhosos em si e os orgulhosos em outrem. Os primeiros diferem dos segundos pois não padecem da doença da aceitação. Mas isso não seria contraditório com o dito por mim logo no começo deste post? Não, nunca me contradigo. Precisar e ter uma patologia são dois universos diferentes. É patologia buscar uma perfeição virtual a fim de preencher vazios emocionais, disso trata-se o que escrevo.

Corpos perfeitos tentando mascarar mentes pequenas e corações ainda menores, usando fotos como instrumento da própria alienação. É minúsculo o homem que não se conhece e nem deixa que o mundo o conheça de verdade. Tão pequeno que me cansei de falar sobre ele e encerro aqui minha pífia análise.

segunda-feira, 21 de março de 2011

Das novas experiências.

Dia desses comecei a participar de umas reuniões de certo grupo. Fui por curiosidade, devo ficar por mais curiosidade ainda. A primeira era apenas de saber do que se tratava aquilo que chamam de Movi e a segunda é fruto do interesse em conhecer melhor as pessoas que o compõem. Engraçado foi perceber que mesmo meus amigos não esperavam me ver por lá, talvez eu não me encaixe no perfil. Mas eu me diverti, juro.

Esse tipo de contato com o novo é bem agradável, ainda mais para alguém que se entedia tão fácil quanto eu. Às vezes até minhas velhas idéias me irritam e cansam, não por eu ter mudado radicalmente de ponto de vista, mas porque ao passo em que concordo com o que eu mesmo disse há tempos, sinto-me um tanto estagnado. Eu preciso ousar.

Entristeço-me em perceber que não tenho ousado tanto quanto gostaria ou sinto que deveria. Sim, é meu dever comigo mesmo ser inovador. Meu blog não seria o melhor exemplo disso, tirando-lhe o nome, é só outro blog. Para mim é único porque é 100% meu, mas não se destaca em nada de outros tantos outros. Onde está a ousadia nisso?

Cada vez que respiro novidade, eu acelero. Não, eu não tomo o novo no lugar do velho, não só por influência externa. Aliás, a minha real fonte é não outra se não eu mesmo. Minha alegria pela novidade é bem mais a boa e velha curiosidade sendo satisfeita do que uma necessidade de reciclagem de idéias. É claro que isso se inclui no pacote, mas eu já faço uma boa faxina mental com boa frequência, boa o suficiente até para ser capaz de acomodar o novo com facilidade. Eu anseio pela variação apenas para ter nuances do todo.

Então, devo admitir, estou animado com as possibilidades que tenho em mãos agora. Portanto eu não poderia pedir mais do que além de uns detalhes chave continuarem a se encaixar. Meu paradoxal amor pelo diferente inclui uma detalhada preparação e planejamento das minhas atitudes em relação a ele. Sim, não sou impulsivo, pelo contrário: calculo cada passo. Mas como tomo minhas decisões quase que instantaneamente e tenho assim aproveitado bem as oportunidades novas que tem surgido. Espero continuar assim, para que o tédio não me engula.

terça-feira, 15 de março de 2011

Sobre o homem obstúpido.

Um clichê que se aplica perfeitamente a minha situação agora é "você só sabe o valor de algo quando o perde". No meu caso, nem cheguei a ter, mas perdi a ilusão de poder. Eu me sinto fraco e ao mesmo tempo, atônito. Não que a minha condição seja surpreendente, mas a morte da esperança não é exatamente algo de fácil digestão.

Queria e ainda quero, mas meu desejo que parecia tão vago e distante se mostrou bem mais ardente do que eu mesmo o valorava. Assim, reduzido a minha impotência de entojado, resta-me apenas teorizar sobre todos os poréns. Prática que digo abominar, mas que sempre me assombra, como a qualquer mortal, em momentos como este. O que poderia ter sido, acontecido, experimentado. De ilusão se alimenta a alma pequena e a minha é minúscula hoje.

Fraqueza? Humanidade! Reconheço e reafirmo a minha sempre. Não me envergonha, pelo contrário. Não terei jamais se não orgulho da minha condição, mesmo miserável e triste como é hoje. É de minha natureza ter o nariz erguido mesmo quando derrotado. Pedância minha. E é fácil ser pedante quando se está pronto para cair e tem sua queda amortecida pelas circunstâncias. Mas toda queda, mesmo a mais suave, não é fácil. Há tanto para digerir, mesmo tendo deglutido tudo.

Eu sou o homem obstúpido, atônito, surpreso. Caiu em mim a verdade que eu já conhecia, só precisava que fosse pronunciada. Teima minha diante do inegável. Porém, quem pode culpar o apaixonado por ser sonhador, se é o sonho a essência da paixão? Um canalha poderia fazê-lo e eu sou desse tipo de canalha. Rirei de mim por ser natural. Rirei do mundo que me aceita e me entende. Rirei da minha desgraça até que não seja mais desgraça, mas comédia. Cada um tolera a decepção como lhe convém.

domingo, 13 de março de 2011

Da dança e manifestação pessoal.

Não parece muito meu estilo falar sobre algo desse gênero, meu texto costuma tratar de reflexão e sentimento. Mas creio que a dança cabe perfeitamente nessas categorias. O que pode causar estranheza, devo admitir, vai ser meu tom bem mais lúdico e menos frio, mas há dias de humor para isso também e este é um desses.

Não sei dançar. Não no sentido tradicional de se movimentar de forma elegante ou conexa acompanhando um ritmo, nem no sentido de ter alguma noção do que estou fazendo, mas talvez justamente por ter que quase sempre ser um observador eu tenha aprendido a admirar quem sabe dançar. Dança é música feita com o corpo e música é a arte sublime.

Lembra a oratória, de certa forma. Em vez de palavras, movimentos desenham um discurso e contam uma história. Convencem, comovem, dominam. Não danço, mas falo e cultivo a idéia de haver equivalência. Não falar por falar, isso é o mesmo que um péssimo dançarino tentando impressionar com sua falta de habilidade. E de certo, alguns discursos me lembram uma "dança do joelho junto" em palavras: risíveis, no máximo.

Falo bem sério dessa intimidade entre fala e movimento. Qualquer pessoa que tenha o mínimo de curiosidade sobre semiótica concordará comigo que minha associação é no mínimo justa. Não só o movimento coreografado, mas o involuntário também. O tarólogo sabe disso, o flertador domina essa segunda língua.

Isso tudo listado apenas para clarear as idéias. É exercício divertido admitir uma falta de habilidade apenas para mostrar que possuo uma outra equivalente. pelo menos eu aprecio a noção de dançar com palavras e gestos pequenos.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sobre o Shadenfreude.

Muita gente diz não entender como alguém pode se deleitar com o sofrimento alheio. Acusam o capaz de ter Shadenfreude de sádico prontamente. Bem, sadismo é uma possível razão, mas é certo que não há tanta gente acometida dessa doença quanto há gente que aprecia o sofrimento alheio. Os outros pequenos corações que tripudiam sobre a desgraça nada mais são que crentes da justiça do universo.

Sei bem que esta é uma das minhas opiniões mais difíceis de engolir, mas eu sempre faço questão de explicar o que digo, não vai ser diferente desta vez. Partamos do que é justiça e do que o senso comum tem como justiça. Justiça é o conjunto de atitudes tomadas por um indivíduo ou por um grupo de pessoas, geralmente numa situação de poder em relação a um ou mais indivíduos, cujo objetivo é manter o equilíbrio dos ânimos. Não é o ideal belo que é pregado ou muito menos o valor absoluto que supõe o homem médio.

Não é a primeira coisa porque a justiça, embora extremamente romantizada, não é um valor que acompanha conotação alguma em si só. Pode parecer absurdo, mas é bem simples: associar justiça com bondade é mero costume social, não algo inerente à justiça. Trata-se de equilíbrio, não de benevolência. Não é fazer o bem, é manter a ordem.

Não é a segunda coisa porque não há valor absoluto. Ser justo em uma situação significa uma coisa em uma sociedade e outra em um grupo com regras sociais diferentes. E ainda que num mesmo grupo social, diferentes indivíduos podem encarar determinadas intervenções como justas ou não, dependendo de seus desdobramentos. É muito comum entender a decisão que não nos favorece, mesmo sendo a mais sensata segundo os preceitos morais, como injusta. Tomasse por injusto tudo que não favorece como deveria.

É da natureza do homem médio não aceitar que um valor que este julga importante vai de encontro ao que ele deseja. Ainda mais um valor tão enobrecido como a justiça. Prefere-se subverter o valor a aceitar-se como "mal". Dito isto, creio que ficou bem claro onde quero chegar: o homem miserável vê como justiça divina o sofrimento alheio pois é 'justo" que todos tenham que ser tão miseráveis quanto ele.

A justiça vulgar do homem médio nada mais é que desejo pela satisfação pessoal. Motiva sentimentos como Shadenfreude e a vingança. Mas é evidente que nada disso é justiça, é pequenes de espírito, digamos assim. A justiça beneficia o conjunto, jamais o indivíduo apenas. E quando não se percebe isso, fica impossível ser juíz imparcial do que quer que seja.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Sobre o lado ruim de certas qualidades

Quem me conhece um pouco sabe que a minha visão de mundo não é maniqueísta. Eu passo longe de qualquer visão extrema. Daí não me caberia, jamais, acreditar que existe algum traço de personalidade que seja completamente benéfico.

Todo aspecto do carater humano que é visto como positivo tem seu lado menos agradável. Qual o mal poderia haver em ser auto-confiante? Nem me prenderei a lugares comuns aqui, como o problema da arrogância: minha filosofia é barata, mas não tem preço de banana ou de psicologia. E além da minha indisposição de falar sobre assuntos batidos, meu argumento nem sequer toca a esfera do exagero. Proponho que até auto-confiança sob medida tem seus contra-tempos.

Tome a pessoa segura em si como objeto de estudo. Que se espera dela, se não que permaneça segura, que não fraqueje e que siga por qualquer turbulência. Se o faz, torna-se modelo. Aplaudam-na, a forte. Mas se um dia, em sua humanidade, este exemplo ceder à insegurança? Não é impossível, ele tem medos e anseios tal qual qualquer outro ser de sua espécie. Mas isto lhe é "proibido", veja bem. Se por um momento ele tropeçar em seus problemas, os olhares do mundo que o cerca o condenarão. Exagero meu? Não. Nesse mundo, não é que apenas não se espere que os fortes jamais caiam: o direito a essa faceta da humanidade lhe é negado.

A fraqueza do de ações nobres é a última a ser e mais difícil de ser perdoada. O confiante não pode sentir-se inseguro. O otimista não pode duvidar. O alegre não pode sentir o gosto da tristeza. Parece que o homem que tenta se edificar torna-se vítima de sua própria condição de ascensão:"queres ser belo e forte? então nenhuma falha ser-te-á natural".

É uma condição angustiante. Mas o exemplo, se realmente for exemplar, aguenta também mais este peso em suas escolhas. Não é fácil deixar para trás vícios da alma, digamos assim. Mas, a humanidade de um sempre será reconhecida por quem for pelo menos tão humano quanto ele. Os juízes dos fortes precisam destes. Por isso não permitem que sejam menos que perfeitos. Rodear-se de juízes de caráter será fatal, mas isolar-se completamente deles não permitirá que se perceba o erro. Então, o que deve o bom fazer?

O ser exemplar, que deve entender ou tentar entender o mundo de juízes e iguais, deve se inserir em ambientes formados por pessoas capazes dos dois comportamentos. Rigor e aceitação, todo homem, forte ou fraco, acaba precisando de ambos. E enquanto o exemplo não for capaz de ser por si só, deverá saber como lidar com isso.