terça-feira, 16 de agosto de 2011

Do perdão.

O orgulho, a mágoa, a vontade de vingança, há tantos entraves ao perdão que este se tornou divinizado ao longo da evolução humana. É do senso comum dá-lo a "quem merece". Isso muito me incomoda.

Ninguém "merece" perdão. Perdão é como o amor: ele não surge pleno de um ímpeto, mas sim brota a vontade e da vontade pode crescer o sentimento em si. Perdoa-se quando não há mais mágoa. Qualquer coisa antes disso é tão vazia quando as declarações apaixonadas dos galãs de filme. O perdão é curtido em reflexão, envelhece como vinho e só ai está pronto.

Só se é capaz de perdoar se há também a capacidade de deixar ir. Odeia-se, muitas vezes, pelo orgulho ferido do que pela própria ofensa. "Ousou fazer isso a MIM, a MIM fez isso o imbecil! Eu relevaria o seu ato bem mais cedo se fosse feito a outro, mas ofendeu a mim.

Ademais, ainda dói. Dói e eu não aceito que não doa. Dói e eu entendo que me prejudica, mas em vez da cura, quero a doença, quero entregar-me ao nada. Terá seu troco, continuarei o ciclo, ao ofendedor, o dobro de minha ofensa.”

Pensamentos como estes me enojam. E os tenho todos, às vezes. Porém, nada disso é realmente o que me incomoda agora. Agora eu penso em como é possível perdoar quem continua a errar. Perdoar-se-ia o todo quando o detrator parasse de portar-se assim, ou perdoá-lo-ia a cada nova infração? E se estas se acumulassem antes que fosse possível acalmar o coração? Antes mesmo de que fossem entendidas por completo?

Não perdôo a quem merece. Não perdôo quem busca meu perdão. Perdôo quem eu quero perdoar, quando estou pronto. E sou sincero, não se pode me acusar do contrário. Deixar as coisas irem, pois nada me pertence.

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