domingo, 31 de julho de 2011

Sobre o enxadrista.

Estratégia é uma parte fundamental da vitória, isso é sabido desde os tempos mais remotos. Mas há guerras e há danças. Danças têm no máximo passos e coreografias, jamais estratégias. São organismos a parte, praticamente, mas delas eu já tratei, só preciso de um gancho para o que realmente quero dizer agora.

Há guerras e há danças. A conquista é do segundo grupo, bem mais do que do primeiro, se pensado direito. Não é exatamente uma competição, é uma colaboração. Para dançar tango, precisa-se de dois. Não se trata de subjugar, não há adversário. Trata-se de Envolver-se mutuamente, não de enredar. Ai falha o enxadrista, o ser meramente lógico. O xadrez, tal como a guerra, é pautado em aniquilar defesas. O enxadrista é um péssimo romântico.

O romântico dança, sabe conduzir e deixar-se conduzir, sabe o começo e o fim, desconhece o caminho exato e isso não o incomoda. O enxadrista desenha cada instante, monta armadilhas, odeia não ter o controle absoluto de cada situação. O enxadrista teme o espontâneo, por isso não dança. E se dança, ou tenta, exige assumir as rédeas. Não flui, desloca-se. Não sente o que fazer, calcula. E hesita. Há, como hesita e perde por isso. Ainda não entende que os melhores movimentos possíveis não são decididos com antecedência, mas são como a água movendo-se por onde pode ser se preocupar com formas pré-definidas.

Pelo menos sei que alguns enxadristas aprendem a dançar às vezes, e um que conheço bem já entendeu certas nuances que sua cabeça quadrada não permitia antes. Agora ele dança também, embora desajeitado. Nada muda de verdade de supetão, não é mesmo?

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