domingo, 11 de julho de 2010

Sobre o desespero.

Dentre emoções que mais me intrigam, esta é uma das mais desafiadoras e complexas. Sim, tenho rankings para tudo, mas não é disso que falarei agora.

Não me atreverei a fazer uma análise muito longa por dois motivos: não quero entediar meus pouquíssimos leitores e o senhor Kierkegaard já o fez com mestria e como partilho de muitos de seus pontos de vista, meu texto se tornaria uma releitura amadora.

O desespero nos atinge a todos em algum momento da vida, isso é fato. Em verdade, não só em algum momento, mas em vários e em algumas vidas, momentos poucos não são puro pesar. Surge de várias fontes e tem como sintoma máximo a sensação de total impotência diante do que pode acontecer, acontece ou aconteceu. Perde-se o sono, a alegria e finalmente, a vontade de viver. É sorrateiro e certeiro e leva a atitudes impossíveis numa situação normal. Destaco o normal, pois o desespero é doença e não deve ser tratado como menos.

Mesmo otimistas como eu estão sujeitos aos seus desconcertos. Não há real forma de evitá-lo, mas há como combatê-lo. É alimentado pelas ilusões de incapacidade que ele mesmo cria, portanto definhará se não lhe for permitido agir. Em teoria, algo muito simples, mas toda pessoa que já se sentiu incapaz sabe como é difícil superar isso, supondo claro que já tenha conseguido superar. Quem não acredita na própria capacidade de realizar, não ousa sequer tentar.

A efetiva arma contra o desespero é a verdade. Enxergar a verdade como ela é e não pelas lentes do desespero. Toda perda, por pior que seja, ainda deixa algo se não revela a importância de outra coisa. Enquanto o espírito, aqui representando a força de vontade, estiver inteiro, é possível enfrentar qualquer obstáculo.

O ser humano é pequeno e limitado e essa limitação machuca seu ego. É bem menos susceptível à perdição da auto-piedade aquele que conhece e aceita sua fraqueza. Portanto, quem sabe exatemente o que tem a perder, não é surpreendido quando o perde ou pela ameaça de perdê-lo, além de ser capaz de se reerguer muito mais rapidamente por já saber com o que ainda pode contar. É mais sereno e verdadeiro, pois vive de realidade, não de sonhos de grandeza inexistente. Cai de muito mais baixo e sabe onde cai quando é atingido, por isso sabe encarar melhor a dor.

É o orgulho que nos torna mais frágeis. A incapacidade de aceitar que podemos perder a qualquer momento e por isso, devemos saber aproveitar bem o que é nosso enquanto é nosso. Mas é da natureza humana só dar valor ao que tem quando o perde e ter certeza de que o que rodeia é seu e permanecerá assim. A única certeza da vida é a morte.

Não digo que o sonho potencializa a vulnerabilidade perante o desespero, não faria sentido algum essa linha lógica. O sonho é o vento sob as asas do espírito e é o guia das realizações. Quem não sonha ou não luta por seus sonhos também cai fácil perante o desespero. Mas isso não é contraditório em realação ao dito antes? Não é quem tem os pés na realidade que combate o desespero.

Quero deixar claro uma coisa: sonhar e iludir-se são duas coisas bem diferentes que podem eventualmente misturarem-se, mas não são inseparáveis. Sonhar é desejar o que não se tem, iludir-se é mascarar a realidade. Pessoas com objetivos tendem a não serem levadas por pensamentos auto-destrutivos ou pelo menos resistem mais do que pessoas sem norte. Isso é fundamental para podar o desespero e para o auto-conhecimento. Quem sabe o que quer e corre atrás, acaba compreendedo suas reais limitações muito mais rápido e pode crescer com isso.

Bem, no momento é o que quero dizer, mas certamente não é tudo o que tenho a dizer sobre o tema. Um dia, logo ou não, esclareço a motivação desse post. Por hora, é só isso.

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