segunda-feira, 24 de maio de 2010

Sobre relacionamentos e posse.

Dia desses, enquanto andava para esfriar a cabeça, comecei a pensar sobre o porquê de sentirmos ciumes. É lugar comum dizer que é tudo fruto de insegurança e coisas do gênero, então minha análise será sobre algo menos superficial do que a causa primeira, falarei do que creio ser a raiz do ciume e também de outros comportamentos associados.

Todo relacionamento é baseado no interesse. Exclua todo e qualquer juízo de valor da palavra interesse em minha afirmação: não falo de manipulação de pessoas para conseguir algo, refiro-me à necessidade básica do ser humano de se relacionar. Somos uma espécie coletiva, é natural unirmo-nos em grupos. Mais natural ainda é que esses grupos surjam por afinidades em comum, já que a unidade mantem-se muito mais facilmente entre pessoas que partilham gostos e pontos de vista. É desejo intrínseco do homem associar-se a outros, fruto da sua ciência da própria fraqueza. Fraqueza física mesmo. Os primeiros dos nossos união-se para caçar e para protegerem uns aos outros. Dividiram tarefas e resultados, algo comum em várias espécies sociais. A diferença em nosso caso é o avançado grau de consciência e, com isso, de complexidade dos laços formados. Ainda assim, nos relacionamos ainda pela necessidade de não estarmos sós.

Mais que isso, é pelo prazer de estarmos acompanhados. Ter um bom amigo é ter com quem contar quando se tem problemas e com quem dividir as vitórias. Ter alguém em quem confiar é algo tão prezado que acabamos criando mecanismos de defesa para as efêmeras relações humanas. Sim, bem efêmeras. Um relacionamento é baseado em compromisso mútuo de se comportar de uma certa maneira. Não há garantia nenhuma de que um dos envolvidos não vai simplesmente romper o acordo a qualquer momento. É claro que estou sendo canalha ao analisar friamente essa questão. Há sentimentos e outros aspectos que tornam esse rompimento algo nada trivial, mas o escopo da minha análise é racionalizar ao máximo o comportamento descrito.

Dos mecanismos de defesas criados, os mais comuns são o sentimento de posse e a hábito de ceder. O sentimento de posse é sem dúvida alguma o mais criticado e ao qual costuma-se referir de forma taxativa. Dele vem o ciume. Temos a tendência de acreditar que tudo aquilo que nos pertence não vai nos abandonar com facilidade e por isso, tomamos posse dos relacionamentos e das pessoas com quem nos relacionamos. Todos fazemos isso, em maior ou menor escala. Quando você se chateia porque um amigo seu falou com uma pessoa de quem você não gosta, é seu sentimento de posse falando alto e "alertando" contra um possível distanciamento dele da sua esfera de amizades. é natural e inevitável. O que pode ser evitado é o comportamento destrutivo associado a esse sentimento de posse. O mais interessante para mim é que a idéia da posse é um absurdo por se só, não só porque nunca se é dono de outra pessoa, mas porque não se pode ser dono de um relacionamento. É algo que não pertence a ninguém.

Mas quero me ater bem mais ao outro mecanismos citado: o hábito de ceder. Sim, eu o vejo como mecanismo de defesa. Essa é outra definição que faço aqui sem juízo de valor. Ceder é a base da diplomacia e é a porta do entendimento. Justamente por isso é um importante mecanismo de defesa de um relacionamento. Sem que se ceda, nenhum conflito pode ser realmente resolvido. A força não resolve problemas, ela só os desloca. Sem que se resolvam os problemas, eles se acumulam e acabam por tornar inviável a convivência entre duas ou mais pessoas. Sufocam qualquer intenção de relacionamento. A questão que gostaria de ressaltar é que ceder, embora necessário, pode ser tão ou mais perigoso que o excesso de sentimento de posse. Deixar que todos ao seu redor sempre tenham o que querem em detrimento ao que te é importante pode acabar com sua identidade.

Pode parecer absurdo dizer isso fora de contexto, mas todos já viram exemplos de pessoas que se entregam totalmente a outras e se deixam levar como garrafas atiradas ao mar. Tudo pelo intenso medo de perder algo que lhe é tão precioso. Chegam ao extremo de relegar o mundo em função de uma pessoa apenas. É triste, mas relativamente comum.

Há coisas que nos são naturais e inalienáveis, mas os comportamentos derivados delas são perfeitamente controláveis e dirigíveis. Não existe um ser humano que não sinta ciume quando vê uma ameaça ao que tem como seu ou que não saiba que ceder é o caminho mais fácil para conseguir simpatia, mas se não dosados corretamente, levam a problemas graves. E é isso o que tenho a dizer agora.

Um comentário:

  1. Discordo completamente da parte que fala de ciúmes, mas concordo completamente com a parte de ceder.
    Estou morrendo?

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